Caro “Narciso”¹, recebi tua missiva e cá lhe respondo com prazer. Sim, meu amigo, todos nós temos defeitos, incertezas, inseguranças, medos. Alguns de nós, acreditamos no amor verdadeiro, outros não, uns professam fé em Deus, outros em “Zeus”²... Mas, tudo é na base da “fé cega, faca amolada” (mesmo as pessoas que dizem que Deus não existe), acreditam em algo... Nem que seja nelas mesmas.
Acho que tu és sabedor, que o homem, o mesmo que foi capaz de criar o avião (utilizou este mesmo invento, para jogar bombas lá do Céu, mesmo Céu que “Atlas”³, um dos titãs, que foi condenado por “Zeus”, para todo sempre, a sustentar com sua força. Mesmo com todo este zelo, as bombas continuam caindo do Céu em direção a Terra, cerceando pessoas inocentes de seguir com suas vidas e mutilando tantas outras, tornando o bom andamento dos seres humanos de bem, em uma outra realidade de dependência e dor. O pior, é que hoje além dos projéteis, somos “bombardeados” (por todos os lados), mais pela irracionalidade dos atos de “seres nada humanos”, que pelas doenças, qual surgem no “amor nos tempos do cólera”⁴.
Não, meu amigo “Narciso”, muitas pessoas não são leais, apaixonadas como antes. Não são adeptas da boa escrita, das pequenas coisas da vida, dos pequenos atos e gestos que partem de muitas direções com espontaneidade, pois, elas são ansiosas, possuem urgência em viver de maneira intensa (porém sem direção) e também de modo desinteressado, quando se trata de sentimentos, pois, nem tudo na vida requer urgência, um bolo, por exemplo, tem etapas para ficar pronto, senão, irá solar.
Meu caro “Narciso”, também gosto de ler bons livros, assim como gosto de conversar com pessoas inteligentes (aprender com elas). Também é bom entender, que muitas pessoas aprendem algo comigo. Gosto de pessoas “malucas beleza”, para me fazer sorrir e me fazer sair do mesmismo (do normal), do Mundo hoje tão “chatinho”. Não gosto da monotonia, das “estampas uniformes”, dos padrões de cores... Gosto de sair da rotina da informalidade dos “restaurantes de comida a quilo”. É preciso tentar resgatar os almoços em família (ao menos para os que ainda tem família para reunir).
Sabe “Narciso”, minha “vó Lourdes” sempre dizia com muita sabedoria, que para você conhecer alguém completamente, precisaria comer um saco de sal com tal pessoa. Mas, o saco de sal que minha vó se referia, não é este saquinho de 1kg, vendido nos supermercados, mas sim, aqueles das rações para os bovinos (sacas de juta, de 50kg).
“Narciso”, não se amofine em tentar se fazer compreender totalmente, porque, assim, como eu não conhecerei ninguém completamente, nem você me conhecerá de todo. Ou seja, a vida segue seus rumos, onde todos, no percurso dela, temos lá os nossos guardados, nossas intimidades, nossos “diários introspectivos” para escrever sob absoluto sigilo. E estas duas palavras já dizem tudo: INTIMIDADE e SIGILO, algo que só pertence aos nossos devaneios e de mais ninguém.
Questionamos tudo, principalmente a confiança... Sei que neste teu tempo mitológico, não existe automóveis, mas, a melhor maneira de identificar se podemos confiar em alguém, é nos perguntar: “Eu compraria um carro usado dessa pessoa?”
Como diz a garotada de hoje: “estou de boa”, não coleciono em minha mente lembranças de pessoas e muito menos de relacionamentos que não me foram importantes. Aprendi a deletar aquilo que não me faz bem. O meu ego é independente e minha alma é livre. Mas, é lógico, meu bom “Narciso”, que tenho sonhos que se concretizaram e muitos outros, que ainda precisam ser realizados. Amei minha família, mas, vamos perdendo todos um a um. Os poucos amigos que considero, são leais, os conhecidos (respeito todos eles), porém, não são aqueles que frequentam minha casa. Eu me amo do jeito que sou e com tudo que possuo, com qualidades e defeitos... E isso, aprendi de certa maneira contigo, meu caro “Narciso”, que é quem sabe se amar profundamente, como nenhum outro ser jamais se amou!
Para finalizar, deixo-lhe um grande amplexo.
Atenciosamente, Douglas.
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¹ “Narciso — O Auto Admirador” (em grego: Νάρκισσος), é na mitologia grega, um herói do território de “Téspias - Beócia”, famoso por sua beleza, vaidade e orgulho.
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² “Zeus” (em grego: Ζεύς e em grego moderno: Δίας), é o pai dos deuses, o principal deus do “Panteão Grego”, que exerce a autoridade sobre os doze deuses olímpicos. É o Deus dos céus, raios, relâmpago que mantêm a ordem e a justiça na mitologia. É também conhecidos na religião helênica, como o “Dodecateão”, residindo no topo do “Monte Olimpo”. Seu equivalente romano é “Júpiter”; enquanto seu equivalente etrusco é “Tinia”. Alguns autores/historiadores, estabeleceram ainda seu equivalente hindu, sendo: “Indra”.
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³ “Atlas” (em grego: Άτλας), também chamado “Atlante”, na mitologia grega, é um dos titãs condenado por “Zeus” a sustentar os céus para sempre. Era casado com “Pleione”, com a qual teve sete filhas ninfas (“Plêiades — Hespérides”).
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⁴ “El Amor en los Tiempos del Cólera — O Amor nos Tempos do Cólera” (1985) — Gabriel José García Márquez (6 de março de 1927 - 17 de abril de 2014).
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