No nosso imaginário, a palavra viúvo/viúva, nos remete a entender senhoras vestidas de preto, com o “Santo Rosário” (conta de terços), nas mãos, por vezes um crucifixo e um longo véu de rendas, para esconder as lágrimas do rosto. Esta indumentária, fazia parte do “luto fechado”. Mas, assim como o “mico-leão-dourado”, estas senhoras também estão em extinção. Hoje é raro ver um viúvo(a) que se deixe rotular e tenha se entregado à solidão eterna, pois, é como se diz: “viúvo/viúva é quem morre”. Os viúvos/viúvas de hoje, voltam a se relacionar com mais facilidade, apesar das dificuldades que envolvem esse recomeço. Sim, é um clichê, mas, a vida segue... Segue meio sem graça, mas, segue.
Tem uma frase minha que diz:
“O luto é um mar revolto, onde o enlutado demora a colocar outra vez os seus pés em terra firme... Isso quando não se afoga também!”
A vida é cheia de perdas e lutos, repleta de altos e baixos. Não existe nenhuma pessoa, no Mundo, que não tenha passado pela experiência de ter perdido um ente querido. A maior dor, porém, é a da perda do pai, da mãe, do esposo ou esposa... Alguém que compartilhava conosco, mais que um espaço geográfico na vida. A perda de um filho nem vou citar, pois, quando os filhos perdem os pais (seguindo a ordem natural das coisas), ficam órfãos, mas, quando os pais perdem um filho, que nome se dá? Não existe um nome para isso, de tão triste e sofrido que é.
Dizem os especialistas (sempre eles), porque, os especialistas são pessoas que muito dizem e pouco nos falam com precisão - que os estágios do luto duram seis meses, até que se chegue à aceitação. Dizem ainda, que existem 4 pontos cruciais no luto:
1) Entorpecimento... Onde é preciso aceitar a realidade da morte;
2) Busca e saudade... Onde se deva viver a dor, tentando entender o que está passando dentro de ti;
3) Desorganização e desespero... Esta é a fase mais difícil, quando “cai a ficha”;
4) Reorganização e aceitação... É a hora de se adaptar ao meio em que vive, no qual o falecido não está mais na tua vida, além das lembranças.
Mas, nada disso acontece desta maneira. Não se pode relacionar 4 tópicos de como superar o luto, pois, cada caso é um caso. Cada pessoa tem o seu tempo de recuperação da sua dor... E algumas pessoas, nem se recuperam.
Outro dia ao fazer um check-in em um hotel, na ficha perguntava [estado civil] e lá não continha viúvo, nos quadrinhos (a se marcar), mesmo que de acordo com a leis brasileiras, existam cinco tipos de estado civil: solteiro, casado, separado, divorciado e viúvo. Os demais termos, como amigado e amasiado, por exemplo, são utilizados coloquialmente e não tem qualquer valor jurídico. Ou seja, ser viúvo mesmo que exista na legalidade documental, por muitas vezes é ser ignorado, pois, não é incomum (quando se diz ser viúvo), logo em seguida alguém lhe perguntar: “Bom, agora que você está solteiro outra vez, o que pretende fazer da sua vida?” Mas, ficar viúvo não é restabelecer a condição, de ser alguém que ainda não se casou. E tem mais, responder o que vamos fazer das nossas vidas, vamos combinar, esta não é uma resposta fácil de ser dada, sendo solteiro, casado ou viúvo.
Aliás, nada nunca é fácil para um viúvo. Se manter em equilíbrio, piorou, porque, além da falta que a sua companheira(o) lhe faz, a sociedade ao escutar a palavra viúvo, o primeiro sentimento é de pena com relação a alguém (principalmente se você é um viúvo jovem). O fato é que ser viúvo jovem não é fácil. E ter de tentar se manter positivo e direcionar a sua vida em tempo integral, para o “seguir em frente” - principalmente para os viúvos que tem filhos para criar, aí tudo fica ainda muito mais complicado, pois, filhos para ser bem-criados, devem ter a presença de pai e mãe e não, só de um em seus dias. Não é à toa que os casais separados acordam (geralmente na justiça), a guarda compartilhada dos filhos.¹
Pior que o vazio de se ficar viúvo jovem, é entender que junto com a pessoa que se foi, foram com ela também, os planos e sonhos que o casal tinha dentro desta união. Quando se fica viúvo pela idade, a história escrita pelo casal, os filhos criados, os netos, bisnetos, suavizam de certa maneira, a dor da falta de quem partiu.
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¹ “A Lei da Guarda Compartilhada”, determina aos juízes que estabeleçam o compartilhamento obrigatório da custódia dos filhos, se não houver acordo amistoso entre o casal. Desta forma, os pais têm direito a visitar ou passar um tempo com os filhos.