É impressionante, sempre acreditamos que somos fortes, mas, diante de certas situações de vida, ninguém é forte o suficiente. E aí, passamos a crer que os outros é que são fortes.
Cada um de nós sabe de si, mas, de modo coletivo sabemos pouca coisa, pois, a sociedade mesmo antes da pandemia, já se escondia por trás de máscaras.
Quem não se recorda das cenas dos filmes, onde vemos pessoas de todas as idades, no “arrivederci” (até nos encontrarmos novamente), enquanto o navio se afasta do cais, naquele adeus que a voz do mar traz, dos lenços brancos a acenar. O navio vai mar adentro, até se perder no horizonte. A cena fecha, o filme acaba, as luzes do cinema acendem e a vida segue, só que agora sem acenos.
A tristeza das partidas abruptas, nos causam desesperança, tanto de quem vai (de quem parte, sem nem dizer adeus), quanto de quem fica, pois, todos sofrem nesta situação, é como diz na canção “Encontros e Despedidas”¹: ♫O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida...♫
Mas, em qual destes lados você já esteve, ou ainda está? Quem parte, talvez, vá embora para preservar as boas memórias da relação, para que elas não sejam arruinadas definitivamente. Já quem fica, guarda tantas mágoas do adeus não dito, que faz com que os sorrisos e as palavras doces do casal (parentes ou amigos), não resistam ao fim e, desta maneira, quem fica “com o lenço branco do arrivederci” na mão, devido a impossibilidade da despedida, acaba por se despedir de si mesmo, devido a incapacidade óbvia ululante, de não poder existir uma relação de uma única pessoa.
Todos nós nascemos para a gentileza, porém, o Mundo carece de amor, ele precisa exclusivamente da nossa felicidade para a gentileza existir. Mas, ninguém espalha amor só com palavras, nem mesmo os poetas conseguem isso, é preciso fazer coisas boas para aflorar nossa gentileza e assim, quem sabe, conseguir evitar tantas despedidas prematuras e desnecessárias.
Evitar despedidas depende também, de para quem entregamos os nossos sentimentos. O problema, é que nunca conhecemos alguém de verdade, sempre há uma parte embaçada no outro, algo visível, porém, imperceptível, mas, que está ali, sem nenhuma intenção de saltar para fora. Cabe lembrar, que se os outros camuflam emoções, nós somos “os outros” para os outros.
A vida é feita mais de partidas que de chegadas, por que, viver não tem volta. A vida é luz e trevas, é feita de sombras e frestas, mas, são exatamente pelas frestas que a luminosidade entra nas florestas, fazendo crescer as árvores e mantendo a vegetação viçosa.
Um dia crucificaram o justo... E hoje não estamos longe disso outra vez, pois, fazemos muitas acrobacias e depois também “lavamos nossas mãos”. Falamos muito, discursamos de modo inflamado, porém, tão pouco dizemos. Arrastamos correntes, olhamos as horas em relógios quebrados e nossos chinelos estão gastos pelo tempo... E assim, dia a dia vamos envelhecendo.
Talvez, nesta solidão imposta pela vida, pelo tempo, precisemos mesmo ruminar em silêncio nossas amarguras, das mulheres e homens cultos e belos que fomos e, que hoje só reconhecemos nos retratos, aprisionadas em telas, por que, as antigas fotografias não mais se revelam, possuem até um certo ar de mentira no papel amarelado e assim, nos transformamos em memórias, em biografias, em outonos, em desencontros... Em retalhos de nós mesmos.
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* Imagens animação da postagem ®DOUG BLOG: “Rúbeo Hagrid — Anthony Robert McMillan - Robbie Coltrane” (30 de março de 1950 - 14 de outubro de 2022) e “Harry Potter — Daniel Jacob Radcliffe” (23 de julho de 1989).
“Encontros e Despedidas” (1985) — [Legendado]
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¹ “Encontros e Despedidas” (1985), compositores: “Milton Silva Campos do Nascimento” (26 de outubro de 1942) e “Fernando Rocha Brant” (9 de outubro de 1946 - 12 de junho de 2015).
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