Todas os dias “converso” muito com os meus autores prediletos da literatura mundial. Sim, pois, ler ou reler livros, para mim é ter “um dedo de prosa” com eles.
No meu entendimento, junto da fome e das doenças primárias (como a poliomelite e o sarampo, que está de volta), deveríamos tentar erradicar de vez o analfabetismo também, pois, ser alfabetizado é um direito de todos.
Mas, com o advento da Internet, faz tempo que eu mesmo deixei de escrever textos manualmente. E olha que já fui assíduo escritor de cartas em papéis perfumados, para mandar para namoradas de outrora, porque, não existe nada igual ao prazer de escrever um texto em letras desenhadas, utilizando uma boa caneta tinteiro (com aquele charmoso vidrinho de nanquim pousado sobre a mesa). Depois da carta pronta, coloca-se o papel no envelope e após estar lacrado, endereçado e selado... Enfim, a missiva estava pronta para ser enviada a outra pessoa, com tudo de bom que você pensou e passou para o papel com tanto carinho e esmero.
Escrever sempre me encantou. Porém, como tudo na vida, evoluímos e assim, não poderíamos deixar de evoluir deste modo de comunicação manual tão nobre. Mas, é preciso entender de que modo evoluímos, pois, continuamos a utilizar as mãos para escrever, mas, hoje só os dedos são utilizados no “teclar comunicativo”. Assim, com o tempo, o bom hábito de escrever se perdeu, como tantas outras coisas que fazíamos antes do advento da Web.
Nas catas, cada um escreve com sua caligrafia, mas o Mundo contemporâneo se baseia em eventos parecidos, nas repetições e, teclar seja no celular, “iPad”, no “Laptop/Notebook” e até no teclado do bom e velho “PC”, que ainda resiste bravamente ao tempo, nada mais é que “reprisar” movimentos que todos fazemos.
O problema é que teclar abreviou tudo: “VOCÊ” já nem é mais você... Você agora é somente “vc”. Estamos perdendo as nossas identidades, nos entristecendo no forçado “KKKK”, nos apartando dia a dia da cultura, vejam só que tristeza!
O poeta português “Fernando António Nogueira Pessoa” (13 de junho de 1888 — 30 de novembro de 1935), assíduo visitante do ®DOUG BLOG, pode ser considerado o primeiro “Fake” da literatura, pois, escreveu muitas obras com quatro heterônimos diferentes: “Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares”. E por ser tantos, se tornou em um dos maiores gênios da literatura mundial e, observem que ele só viveu curtos 47 anos.
“Pessoa”, escreveu muitas páginas de profunda beleza, mas, esta que citarei aqui no ®DOUG BLOG, para mim é ímpar, pois, se sobressai muito a tudo que “Fernando Pessoa” escreveu sobre o amor:
“Todas as Cartas de Amor São Ridículas” (1935)
“Álvaro de Campos - Fernando Pessoa”
“Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.”
Diante da beleza desta poesia, nada mais precisa ser dito sobre se devemos ou não escrever cartas de amor. Até porque, o bom escritor tem de ser um bom leitor e uma pessoa culta, certamente conquista o amor com muito mais facilidade, do que uma pessoa que só tenha beleza efêmera.
Eu leio muito e atualizo o ®DOUG BLOG com frequência, mas, como um “blog” não é um diário, não posso escrever o mesmo a mão, assim, tenho de utilizar os mecanismos possíveis para editá-lo via Web.
O certo, é que se uma pessoa lê pouco, pouco escreverá também, seja de modo manual ou digital.
Assim sendo, escrever cartas, sejam elas de amor ou não, nunca deveria deixar de ser um hábito em nossos dias, nem que as cartas sejam escritas e fiquem guardadas dentro de uma gaveta, esperando por alguém que um dia leia tudo, num fôlego só de curiosidade.
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웃 PERSONAGENS NAS ARTES NÃO MENCIONADOS NO TEXTO:
* “Garfield e Odie” (1978), criações do cartunista americano: “Jim Davis” (28 de julho de 1945).