O meu medo não é da chuva... Mas sim, dos relâmpagos... Dos raios que nos partam.
O meu medo é de não dormir à noite e virar um zumbi insone de dia. O meu medo de não dormir, me dá sono, me faz bocejar.
O meu medo é de que o passado desperte, que o futuro não aconteça... O meu medo é de que o presente sinta-se também um zumbi insone e me assombre todos os dias.
O meu medo é da notícia que virá, no celular que toca no silêncio da madrugada.
O meu medo não são das batalhas entre os bandidos e a polícia... Mas sim, das balas perdidas que sempre encontram alguém.
O meu medo não é da bruxa que tem uma verruga na ponta do nariz. O meu medo é da princesa que mente ser princesa e na realidade é uma madrasta dos contos de fadas.
O meu medo é engraçado, não me amedronto com leões ou leopardos, o meu medo são dos pássaros, que voam e nos deixam todos “cagados” aqui embaixo. O meu medo não morde, não fede e nem cheira, o meu medo faz a ansiedade parecer brincadeira.
O meu medo não é de ter que identificar o corpo de um parente morto no necrotério. O meu medo é de ter de identificar o corpo de um parente “muito vivo”, sentado no sofá da minha sala, numa visita indesejada.
O meu medo não é de me atrasar e sim, de ser o primeiro a chegar. O meu medo é de ficar descapitalizado, pois, as contas e impostos nunca findam.
O meu medo me dá falta de ar, ao ponto de ter de respirar repetida vezes dentro de um destemido saco de papel sem vida.
O meu medo não é de receber cartas dos meus filhos... Pois, não tenho filhos e quem ainda escreve cartas? O meu medo é de que os filhos que não tenho morram antes de mim.
O meu medo não é de ficar com os meus cabelos grisalhos. O meu medo é de ficar careca, O meu medo é ter que morar comigo mesmo na minha velhice. O meu medo é de adoecer sem envelhecer.
O meu medo não é de acordar, me olhar no espelho e observar que parti... Eu, não o espelho. E diante da eternidade, os sete anos de azar do espelho inquebrável inexistem.
O meu medo não é de desanimar... O meu medo é de deixar de amar por falta de amor alheio.
Enquanto vivemos não há o suficiente de tudo para nos satisfazer. Assim sendo, o meu medo é da morte prematura. O meu medo não é de viver demais. O meu medo é da morte prematura... Mas, já disse isso.
°°°
* Arte inicial animada ®DOUG BLOG: “Snoopy” (1950), personagens criados pelo cartunista norte-americano: “Charles Monroe Schulz” (26 de Novembro de 1922 - 12 de Fevereiro de 2000).
“Raul Seixas — Medo da Chuva” (1974)
♫É pena que você pense
Que eu sou seu escravo
Dizendo que eu sou seu marido
E não posso partir
Como as pedras imóveis na praia
Eu fico ao teu lado, sem saber
Dos amores que a vida me trouxe
E eu não pude viver.
Eu perdi o meu medo, o meu medo
O meu medo da chuva
Pois a chuva voltando pra terra
Traz coisas do ar
Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que choram
Sozinhas no mesmo lugar.
Eu não posso entender tanta gente
Aceitando a mentira
De que os sonhos desfazem
Aquilo que o padre falou
Porque quando eu jurei meu amor
Eu traí a mim mesmo
Hoje eu sei, que ninguém nesse mundo
É feliz tendo amado uma vez, uma vez.
Eu perdi o meu medo, o meu medo
O meu medo da chuva
Pois a chuva voltando pra terra
Traz coisas do ar
Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que choram
Sozinhas no mesmo lugar
Vendo as pedras que choram
Sozinhas no mesmo lugar
Vendo as pedras que sonham
Sozinhas no mesmo lugar.♫
°°°
* “Medo da Chuva”, é uma composição de muito sucesso dos anos setenta de: “Raul Santos Seixas” (28 de junho de 1945 - 21 de agosto de 1989) e “Paulo Coelho de Souza” (24 de agosto de 1947).
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