Muitos amigos dizem que sou um bom contador de histórias¹. Por ser filho de pais mineiros, acho que herdei do povo das “Alterosas” esta boa mania de contador “causos”.
Assim sendo, vou relatar aqui no ®DOUG BLOG, quatro contos bem curtinhos, que acho bem interessantes.
O primeiro conto já abordei aqui no ®DOUG BLOG, mas, vale a pena repetir, pois, relata a desonestidade de alguns comerciantes de artes romanas, qual nos revela a origem da palavra “SINCERA” (de SINCERIDADE), palavra que é derivada da junção de outras duas palavras originárias do latim: (sine) e (cera).
1° CONTO — “CUM CERA & SINE CERA”
Na Roma antiga, os escultores quando esculpiam uma estátua em mármore, por vezes viam acontecer pequenas trincas ou imperfeições no material. Assim, os que eram desonestos (para escamotear as imperfeições), usavam uma espécie de cerume incolor, para ocultar e esconder estes defeitos nas estátuas, para que desta maneira, os compradores não percebessem. Mas, com o tempo, devido ao manuseio das peças e o calor, o cerume derretia e as pessoas que adquiriam estas estátuas, descobriam suas imperfeições. Ou seja, descobriam que era uma escultura “cum cera”. Já os escultores honestos de Roma, faziam questão de dizer que suas estátuas eram: “sine cera”, ou seja, perfeitas, sem defeitos escondidos na pedra de mármore, fruto do trabalho SINCERO.
°°°
O segundo conto, relata uma conversa de um velho índio com o seu neto. É uma lenda que expõe que todos nós temos nossas feras interiores. Esta lenda, é uma metáfora sobre “Dois Lobos”, também conhecida como: “O Interior dos Lobos”, narrado por um “Cacique Cherokee” (tribo indígena ainda hoje existente, na “Carolina do Norte e Tennessee - EUA”), qual tem em seu final, uma moral da história.
2° CONTO — “DOIS LOBOS”
Um velho e sábio “Cacique Cherokee”, conversa com seu neto (que está com muita raiva de outro pequeno índio da tribo), que havia lhe feito uma injustiça:
💬 Vovô, hoje estou com uma raiva de matar cavalo selvagem, aos chutes e pontapés!
💬 Deixe-me te contar uma história, meu neto. Eu mesmo, algumas vezes, já senti grande ódio por aqueles que não têm respeito e nem qualquer arrependimento do que fazem. Mas, o ódio só nos corrói e não fere o teu inimigo. É como tomar veneno e desejar que o seu inimigo morra. Luto sempre contra esses sentimentos dentro de mim muitas vezes.
E o menino diz:
💬 É tão ruim assim vovô?
E o Cacique continua sua narrativa:
💬 Sim e não...
💬 Como assim? - pergunta o menino, cada vez mais curioso com o quê o avô dizia.
💬 É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não faz mal algum, pois, ele vive em harmonia com todos ao seu redor. Assim, não se ofende com aqueles que tentam lhe ofender. Ele só luta quando tiver que lutar e, da maneira justa, correta.
O menino segue escutando atentamente a história do velho e sábio Cacique...
💬 Mas, existe outro lobo... E esse está cheio de mágoa. Sua ira vai colocá-lo em estado de batalha. Ele luta contra todos, o tempo inteiro e, sem nenhuma razão. Não consegue raciocinar, porque, o seu ódio é tão grande? É uma raiva intensa e inútil. Por causa dessa raiva, nada irá mudar suas ações. Às vezes, meu neto, é tortuoso viver com esses dois lobos dentro de mim, pois, ambos tentam dominar meu espírito.
O garoto olhou bem dentro dos olhos de seu velho avô e pergunta:
💬 No final, qual dos dois lobos vence essa batalha?
O sábio cacique, sorri, passa sua mão nos lisos cabelos negros da cabeça do neto e responde baixinho:
💬 Aquele que eu estiver alimentando no momento!
°°°
O terceiro conto é bem adocicado, relatando a existência de algumas versões aceitáveis para a origem da denominação “Pé de Moleque” (ao doce), devido as histórias tradicionais e saborosas sobre estas iguarias de amendoim, da culinária brasileira.
Uma destas versões, é referente ao calçamento das ruas, que são de pedras bem irregulares, principalmente em cidades históricas brasileiras, do interior de “Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro”, quais se assemelham aos cubos dos doces.
Outro relato, é motivado pelas quituteiras do passado, que vendiam seus doces nas ruas destas mesmas cidades históricas e, se tornavam alvo de furtos por parte dos “moleques”, que pegavam os doces e “davam no pé” (ou seja, os meninos fugiam sem pagar).
Este terceiro conto, se passa na cidade de “Tiradentes, Minas Gerais”. É um “causo” de uma famosa quituteira da cidade, que fazia os melhores doces e “quitandas” da região, por assim ser, será esta que aqui vou narrar, por crer ser mais aliciente a leitura.
3° CONTO — “PÉ DE MOLEQUE”
“Dona Cora” morava perto do “Chafariz de São José, em Tiradentes - Minas Gerais”. Era uma quituteira e doceira de mão cheia. Fazia pão de queijo, biscoitos e brevidades de polvilho, bolo de fubá cremoso, doce de abóbora com coco, broinhas de fubá, pamonhas, etc... Mas, o seu “carro-chefe”, era o doce de amendoim em cubos, qual ela repousava no parapeito da janela de sua casa, para secar e esfriar.
Um menino (daqueles bem insubordinados), de nome “Juca”, que de tanto gostar de doces, acabou um dia por fundar sua própria fábrica de balas, em “Santo André” (interior de São Paulo), em (1945), utilizando o seu apelido “Juquinha”, para criar a famosa marca homônima de balas. Mas, que infelizmente, em (1979), por se ver endividado, se viu obrigado a vender a empresa, que foi comprada pelo doceiro italiano: “Giulio Luigi Sofio” (14 de junho de 1938), que manteve o nome da famosa bala, que até hoje encontra-se à venda.
Mas, o menino que um dia, como disse, fundaria sua própria fábrica de balas, nem sempre comprava seus doces. Sim, o pequeno “Juca”, passava na rua da casa da “Dona Cora” e, quando via os doces dando sopa na janela, pegava vários deles, qual comia prazeirosamente. “Dona Cora”, quando notava tal traquinagem do menino, gritava para ele:
💬 Eeeeeeê, Juquinha, eu ainda te pego menino! Dá próxima vez que quiser um doce, vê se pede, moleque! Vê se pede, moleque!
Diante deste cacófato linguístico, deste trocadilho inconsciente de “Dona Cora”, o nome do doce de amendoim passou a ser conhecido por: “Pé de Moleque” até os dias de hoje.
°°°
O quarto e último conto, é um diálogo curtinho de dois irmãos (um maior e outro menor), sobre seus animais de estimação (um maior e outro menor).
4° CONTO — “DAVI & GOLIAS”
O menino maior diz:
💬 Davi, porque você está cavando um buraco no quintal?
O menino menor responde:
💬 É porque o meu peixinho morreu!
💬 Mas, precisa cavar um buraco tão grande, para enterrar aquele seu pequeno peixinho de aquário?
💬 Sim, tem de ser um buraco bem grande!
💬 Porque, tem de ser um buraco bem grande, moleque?
💬 Ora Golias, porque, ele morreu abocanhado por aquele seu gato idiota!
°°°
¹ A palavra que está correta é história com (h minúsculo), estória com (e minúsculo), é uma forma antiga da palavra história e, que deveria ter caído em desuso, pois, é um neologismo proposto por: “João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes” (24 de junho de 1860 - 13 de abril de 1934), jornalista, historiados e folcloristas, membro da “ABL - Academia Brasileira de Letras”, que no ano de (1919), solicitou a inclusão da palavra “estória” no vocabulário, para designar o folclore tradicional na narrativa popular. Porém, correto está: História com (H maiúsculo = matéria) e com (h minúsculo = narrativa de contos, etc... — já estória com (e minúsculo), está errado.