Quantas vezes na vida respondemos esta fatídica pergunta: - Quantos anos você tem? Muitas vezes, não é mesmo? Acordamos e vamos dormir e já envelhecemos mais um dia. Ou seja, envelhecer não é uma viagem e nem é uma aventura da vida, é algo que não controlamos mesmo. Mas, é também a oportunidade do reconhecimento e do agradecimento a todas as pessoas que fizeram algo de bom por nós durante a vida e isso, já justifica o acumular dos anos.
Assim sendo, hoje abordarei aqui no ®DOUG BLOG, a satisfação que eu tenho na leitura, na literatura, algo que aprendemos dia após dia... Ano após ano. Vou destacar o primeiro autor adulto que li na vida (sendo ainda muito jovem): “Franz Kafka” (3 de julho de 1883 - 3 de junho de 1924).
Antes de “Kafka”, já havia lido “Monteiro Lobato” (18 de abril de 1882 - 4 de julho de 1948); “Ruth Rocha” (2 de março de 1931); “Os Irmãos Grimm”¹; entre outros.
Voltando a “Kafka”, foi ele que escreveu: “Die Verwandlung - A Metamorfose” (1912), tendo publicado o seu “pequeno livro” no ano de (1915). Como citei, este foi a minha primeira “leitura adulta” e contrariando a maioria dos críticos literários, eu digo na minha ótica, que “Franz Kafka” não era um homem triste, seco e nem autor de uma obra só de expressão, dizer isso, seria o mesmo que dizer que o genial “Monteiro Lobato”, só tenha escrito o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, como obra relevante e que ele era racista e comunista.
Na minha casa sempre convivi com muitos livros... Livros que saboreei um por um, assim, como saboreava a palatável comida da minha saudosa mãe “Neuza”. Um dia (eu tinha de dez para onze anos), me deparei sem querer com “A Metamorfose”, pois, a minha mãe gostava de ler livros em voz alta (hábito que acabei herdando dela). Dessa maneira, escutando as histórias narradas por minha mãe, “colidi de frente e sem freios”, com a saga do caixeiro-viajante: “Gregor Samsa”, que um dia foi dormir homem e no outro, acordou transformado em um repugnante inseto . Mas, em nenhum momento da narrativa “Kafka” define qual é o tipo de inseto, porém, para mim e acho que para o Mundo, tratava-se de uma barata (espécie comum nas casas de qualquer pessoa e em qualquer lugar), pois, por mais asseada que sua casa seja, “que atire o primeira chinelada, quem nunca teve uma baratinha que seja em casa”.
Para uma criança escutar tal narrativa foi fantástico. Muito curioso que fiquei, fui ler o “livrinho vermelho” de minha mãe (exemplar este, que está em minha biblioteca particular até hoje). Eu havia escutado, mas, precisava ler com os meus próprios olhos, a história daquele homem que despertaria um belo dia na forma de barata, mas, que segue pensando e sentindo como ser humano. A família dele perplexa e resistente ao novo fato, não sabe o que fazer, a não ser rejeitá-lo... (Aliás, como é comum diante dos preconceitos sociais sobre as minorias e sobre os “diferentes”). Mas, um dia trágico acontece em sua vida de inseto, uma maçã atinge as suas costas, ocasionando uma inflamação e por fim, o seu óbito. Vejam só, este fruto do pomáceo da macieira, que outrora expulsou “Adão e Eva do Jardim do Éden”; que fez “Branca de Neve” cair em sono profundo; agora faz outra vítima na literatura.
Que livro incrível! Nele, experimentamos compaixão e porque não dizer, amor por aquele “homem-barata”. (É bem verdade que estes sentimentos, não se estenderam às outras baratas cascudas e voadoras, que sigo esmagando, num misto de nojo e regozijo, até os dias de hoje).
Este livro ficou em estado de hibernação na estante por décadas, até que já adulto, reli a narrativa, que ganhou novos e densos significados para mim. Na primeira leitura, eu ainda não sabia direito o que queriam dizer as verdades “nuas e cruas” da vida, com a dor das perdas, das alienações, discriminações e preconceitos, dos repúdios e escárnios. Hoje, já vi no Mundo e até experimentei um pouco de tudo isso. Mas, a grande sacada do livro, é que a cada leitura que fazemos, sentimos novas e intensas sensações, mesmo que o livro esteja sendo lido outra vez... E outra vez... E outra vez, seja em silêncio ou em voz alta.
Nesta história, existe a força de um homem transformado em inseto, razão que faz esta publicação comemorar mais de cem anos, com muito sucesso. Repare que no Mundo contemporâneo, onde os bens culturais por vezes, durem somente semanas ou dias, devido ao advento da Internet (lugar onde as verdades e mentiras nunca são absolutas), um livro ainda derruba a “Grande Rede”, pois, não existe prazer maior que manusear um livro, folha por folha, até que a palavra - FIM - apareça na nossa frente.
A felicidade que guardo desta leitura, é um feito e um efeito aliado a outros bons livros que já li na vida e isso, não é moeda de troca diante de nada (por mais interessante que algo seja), que possamos encontrar no “universo virtual”.
“Kafka” escreveu este livro em menos de um mês e o guardou por três longos anos na gaveta, sem editar, com medo de não agradar quem fosse ler a sua obra. Estava enganado o nobre “Franz Kafka”, pois, o seu livro de tão bem redigido e, por ser ao mesmo tempo tão sincero, simples e complexo em suas palavras, creio eu, que “Kafka” deva ter sido o primeiro “blogueiro”, do ainda então Mundo sem Web.
Para finalizar, só posso dizer que “Kafka, o Homem-Barata é um barato!”
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[NOTAS FINAIS ®DOUG BLOG]
¹ “José Bento Renato Monteiro Lobato” (18 de abril de 1882 - 4 de julho de 1948), foi um escritor brasileiro e tradutor de autores da sua época. — “Ruth Machado Lousada Rocha”, é uma escritora brasileira de livros infantis, membro da “Academia Paulista de Letras” desde (25 de outubro de 2007), ocupando a cadeira 38. Seu livro infantil de maior sucesso e vendagem, é: “Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias” (1976). — “Os irmãos Grimm”: “Jacob Ludwig Karl Grimm” (4 de janeiro de 1785 - 20 de setembro de 1863) e “Wilhelm Karl Grimm” (24 de fevereiro de 1786 - 16 de dezembro de 1859), ambos são acadêmicos, linguistas, poetas e escritores. Nasceram no então “Condado de Hesse-Darmstadt, atual Alemanha”. Os dois dedicaram-se ao registro de vários contos infantis, ganhando grande notoriedade com suas fábulas.
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웃 PERSONAGENS NAS ARTES NÃO MENCIONADOS NO TEXTO:
* “Garfield e Odie” (1978), criações do cartunista americano: “Jim Davis” (28 de julho de 1945).