O ano é (1980), mais um domingo de sol no “Rio de Janeiro” (como de costume). E lá estava eu (o pequeno Douglas), caminhando com o meu saudoso pai, pela “Avenida Atlântica”, observando atentamente as “pedras portuguesas” que se emendam em um mosaico, formando as ondas do mar no “Calçadão de Copacabana”, quando de repente escuto: “Senhor Walter, que prazer em vê-lo novamente!”
Meu pai se aproximou daquele pequeno cidadão sorridente e todo vestido de branco (inclusive o chapeuzinho na sua cabeça) e lhe estende a mão para o cumprimento, também com um sorriso nos lábios. Conversaram um pouco e, meu pai me apresentou o amigo e disse quem era. E qual não foi a minha surpresa: meu pai conhecia “Grande Otelo”¹ (que estava no elenco do “Sítio do Pica Pau Amarelo”, naquele ano) e eu não perdia um episódio.
Após este breve relato, o ®DOUG BLOG hoje presta uma homenagem ao genial: “Sebastião Bernardes de Souza Prata” (ou “Sebastião Bernardo da Costa”), conhecido popularmente como: “Grande Otelo”, que este mês estaria completando 104 anos (se vivo fosse). Mas, o ator, compositor e cantor brasileiro, nascido na cidade do triângulo mineira - “Uberlândia”, em: (18 de outubro de 1915), ainda vive em todos os seus personagens. Aliás, até para morrer o nosso “Otelo” foi “Grande”, pois, “faleceu brilhando”, na cidade luz, “Paris - França”, em: (26 de novembro de 1993).
“Grande Otelo”, era um “pequeno grande homem” de (1,5 m) e quando era menor ainda, aos sete anos de idade, teve sua primeira experiência como ator, ao participar da apresentação de um circo que passou em “Uberlândia - MG”. Vestido com roupas femininas, de batom vermelho na boca, interpretou a mulher do palhaço, arrancando risos e aplausos da plateia.
“Otelo” quando perdeu o pai, conviveu pouco tempo com a mãe (que era separada do pai) e por ser alcoólatra, deu o menino em adoção para, “Isabel Gonçalves”, mãe de “Abigail Aléssio Parecis” (20 de fevereiro de 1905 - 31 de agosto de 1956), conhecida como: “Abele Di Angeli”, sendo levado para “São Paulo”, pela “Companhia de Teatro Mambembe”, dirigida pela própria “Abele”.
“Grande Otelo” estudou no “Liceu Coração de Jesus”, até a 3ª série do ensino médio. Ao ser adotado pela família “Gonçalves”, ganhou o apelido de “Otelo”. Este apelido surgiu na “Companhia Lírica Nacional”, onde o ainda jovem, tomava aulas de canto lírico. O maestro julgava que quando ele crescesse, poderia cantar a “Ópera Otelo”, de “Giuseppe Verdi” (10 de outubro de 1813 - 27 de janeiro de 1901), porém, por sua pequena estatura recebeu o apelido irônico de “Pequeno Otelo”. Já ator de carreira, finalmente a crítica reconheceu o seu talento.
Em (1926), com apenas 11 anos, ingressou na “Companhia Negra de Revista”, composta exclusivamente por “artistas de cor” (como se dizia na época), entre eles, “Pixinguinha” (23 de abril de 1897 - 17 de fevereiro de 1973), que era o maestro e o músico “Donga” (5 de abril de 1889 - 25 de agosto de 1974). Já em (1932), entrou para a “Companhia Jardel Jércolis”¹, um dos pioneiros do teatro de revista. Com esta companhia, chegou ao “Rio de Janeiro”, realizando seu sonho de infância. Já na “Cidade Maravilhosa”, transformou-se num assíduo frequentador das noites cariocas, pois, era sempre visto na famosa “Gafieira Elite”, no “Bar Vermelho” ou nos “inferninhos de Copacabana”
Entre (1938 e 1946), fazia trabalhos nas “Rádios Nacional e Tupi”. Nesse período trabalhou também no “Cassino da Urca”, atuando no palco em diversos espetáculos (fazendo o que hoje é conhecido como “Stand Up Comedy”)², mostrando como “Grande Otelo” sempre esteve à frente do seu tempo. Em (1939), contracenou com a atriz e dançarina norte-Americana “Josephine Baker” (3 de junho de 1906 - 12 de abril de 1975), que considerou uma das mais importantes apresentações de sua carreira.
Negro, quase anão, viveu numa época em que o racismo estava no auge no “Brasil”, momento que os negros não podiam entrar pela porta da frente do “Cassino da Urca”, por exemplo, fato que mudou, depois da contratação de “Otelo”. Nesta época, ele compôs junto com “Herivelto Martins” (30 de janeiro de 1912 - 17 de setembro de 1992,), o famoso samba: “Praça Onze”, que fez grande sucesso no Carnaval de (1942).
♫Vão acabar, com a Praça Onze ♪ Não vai haver mais escolas de samba, (não vai) ♪ Chora o tamborim! Chora o morro inteiro! Favela, Salgueiro ♪ Mangueira, Estação Primeira ♪ Guardai os vossos pandeiros, guardai ♪ Porque a escola de samba não sai...♫
No cinema, “Grande Otelo” foi um dos grandes destaques da “Atlântida”, levado pelo diretor “José Carlos Burle” (19 de julho de 1910 - 23 de outubro de 1983), protagonizou muitos filmes. O primeiro grande sucesso da produtora foi: “Moleque Tião” (1943). Na “Atlântida”, “Grande Otelo” fez uma genial parceria com “Oscarito” (16 de agosto de 1906 - 4 de agosto de 1970), se tornando a dupla mais famosa e bem sucedida do cinema brasileiro. Juntos, estrelaram grandes sucessos como: “Noites Cariocas” (1935); “Este Mundo é um Pandeiro” (1946); “Três Vagabundos” (1952); “A Dupla do Barulho” (1953); “Matar ou Correr” (1954); “Assalto ao Trem Pagador” (1962); “O Dono da Bola” (1961); “Quilombo” (1984). Mas, o filme que marcou época para “Otelo”, foi mesmo “Macunaíma” (1969), obra inspirada no livro de “Mário de Andrade” (9 de outubro de 1893 - 25 de fevereiro de 1945), publicado em (1928).
No teatro, atuou em inúmeros espetáculos, sendo “talhado” por diversos diretores, entre eles, “Walter Pinto” (17 de fevereiro de 1913 - 21 de abril de 1994); “Carlos Machado” (16 de março de 1908 - 5 de janeiro de 1992) e “Chico Anysio” (12 de abril de 1931 - 23 de março de 2012). Nas peças que atuou, destacam-se em: “Um Milhão de Mulheres” (1947); “Muié Macho”, Sim Sinhô” (1950); “Banzo Aiê” (1956) e “O Homem de La Mancha” (1973).
Na década de (50), “Grande Otelo” atuou nas “TVs Tupi e Rio”. A partir de (1960), começou a realizar diversos trabalhos na “Rede Globo”, participou da novelas: “Bandeira 2” (1971); “Uma Rosa com Amor” (1972); “Feijão Maravilha” (1979); “Água Viva” (1980), juntamente com o “Sítio”³; “Sinhá Moça” (1986). Atuou também no humorístico “Escolinha do Professor Raimundo” (1990 até 1993) e em mais uma novela: “Renascer” (1993).
“Grande Otelo”, foi casado com as atrizes: “Lúcia Maria Prata” (de 1941 a 1949); “Olga Prata” (de 1954 a 1974) e “Maria Helena Soares” - mais conhecida como: “Joséphine Hélene” (1974 - 1987). Com “Olga Prata”, teve quatro filhos: “Mário Luiz Prata”; “Jaciara Prata”; “Carlos Sebastião Prata” e o também ator “José Prata”, conhecido como: “Pratinha”.
Em (1993), viajou para a “França” para receber sua derradeira homenagem em vida, no “Festival dos Três Continentes”, realizado na cidade de “Nantes”.
Para finalizar, esta postagem sobre “Grande Otelo”, que se dizia fã do cineasta norte-americano, “Orson Welles” (6 de maio de 1915 - 10 de outubro de 1985) e, que colecionou muitos fãs no meio artístico e fora dele. O nosso “Macunaíma - O Herói Sem Nenhum Caráter”, que deu vida a tantos outros personagens inesquecíveis, como é o caso de “Seu Eustáquio”, que quando chamado pelo “Professor Raimundo”, dizia: “Aqüi! Qüi qüeres?” - e no final, tendo se enrolado todo na resposta, vinha o fatídico: “Faiô?”
Não, “Grande Otelo”... Não “Faiô”, você sempre fez tudo bem certinho, com um gigantesco talento!
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[NOTAS FINAIS ®DOUG BLOG]
¹ Meu pai conheceu “Grande Otelo”, quando trabalhou na mesma empresa, com “Jardel Filho” (24 de julho de 1927 - 19 de fevereiro de 1983), filho de “Jardel Jércolis” (1894 - 1944), que aparecerá no texto mais à frente.
² “Stand Up Comedy”, é um termo que designa um espetáculo de humor executado por apenas um comediante, que se apresenta em pé, sem acessórios, cenários ou caracterização de personagem, diferenciando o “Stand Up” de um monólogo tradicional.
³ Como disse no início do texto, em (1980) “Grande Otelo” fez uma participação especial no “Sítio do Pica Pau Amarelo”.
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웃 PERSONAGENS NAS ARTES NÃO MENCIONADOS NO TEXTO:
* “Garfield e Odie” (1978), criações do cartunista americano: “Jim Davis” (28 de julho de 1945).