“Quem Mal Lê, Mal Ouve, Mal Fala e Mal Vê”

Quando “José Bento Renato Monteiro Lobato” (18 de abril de 1882 - 4 de julho de 1948), diz em suas obras literárias que: “Nastácia é uma negra amável e confiável”; ele está então e somente, identificando a personagem para que as crianças do seu tempo, pudessem imaginar sua imagem (já que os livros da época não vinham ilustrados). É óbvio, que hoje em dia a narrativa dispensaria estes dizeres, devido aos desenhos animados e ao advento da Internet. Mas e, quando “Lobato” diz que: “A Dona Benta é uma senhorinha de cabelos grisalhos, baixotinha e muito alva”; isso não gera o mesmo peso de quando se lê sobre “Nastácia”. Então, é exagerado dizer que “Monteiro Lobato” era racista, pois, isso é como afirmar que os homens das cavernas eram retardados, por não saberem usar um telefone celular. 

 

No livro “Caçadas de Pedrinho” (1933), termos como: “macaca de carvão, carne preta e beiçuda”, são usados pelo próprio autor para falar sobre “Tia Nastácia”... “A sempre dócil negra que cuida de todos sem se revoltar”. Este comportamento, aliás, é um reforço do estereótipo da “Mammy”¹, difundido nos “EUA” nos anos (1930).

As capas da “Coleção Completa” dos livros de “Monteiro Lobato”, são na cor vermelha e por isso, alguns militares tiveram o desplante de dizer que “Monteiro Lobato” além de racista, seria comunista também.

 

Segundo pesquisas elaboradas por alguns críticos literários da época, “Monteiro Lobato” destaca outra característica relevante em sua personalidade, desta vez, apresentada em correspondências pessoais do escritor. Estas pesquisas revelam, que ele mantinha contato com integrantes da “Sociedade Eugênica de São Paulo” (e que ele mesmo teria feito parte deste grupo). Em uma carta de “Lobato” ao médico baiano “Arthur Neiva” (22 de março de 1880 — 6 de junho de 1943), ele exalta a atividade da organização racista “Ku Klux Klan”. Assim sendo, muitos pesquisadores apontam que “Monteiro Lobato” era racista, baseados nestes recortes de pensamentos e frases preconceituosos que além das cartas, se multiplicam nas falas das personagens de seus livros, inclusive no livro de contos “Negrinha”, publicado pelo escritor” em (1920).

De contrapartida, existem outros estudiosos, que apontam a necessidade de saber distanciar o entendimento da obra, do posicionamento pessoal do escritor, em relação ao racismo. Eu concordo com este segundo grupo de estudiosos, das obras de “Monteiro Lobato”, pois, como ele mesmo dizia: “Quem mal lê, mal ouve, mal fala e mal vê!”

O que no meu modo de entender as coisas, muito até aqui foi mal lido, mal ouvido, mal falado e mal visto, sobre atribuírem racismo e comunismo a “Lobato”, um dos maiores escritores da literatura brasileira.

Eu torço para o Botafogo, que tem a sua camisa listrada em preto e Branco; sou fã da cantora “Vanessa Sigiane da Mata Ferreira” (10 de fevereiro de 1976), com o seu cabelo estilo “black power” belíssimo; adoro café; brigadeiro; chocolate; feijoada; bolo de chocolate “Nega Maluca”; samba; mulatas e acho que nem sempre, um dia de chuva é um dia de Céu escuro e muito menos, que a “ovelha negra da família”, seja a pior parte das pessoas e, a cantora e compositora “Rita Lee Jones de Carvalho” (31 de dezembro 1947), está aí para não me deixar mentir, pois, gravou uma canção de nome: “Ovelha Negra”, no álbum “Fruto Proibido” (1975). 

♫... Foi quando meu pai me disse filha / Você é a ovelha negra da família / Agora é hora de você assumir e sumir...♫

“Ovelha Negra” é considerado o hino de “Rita Lee” e provavelmente sua canção mais famosa. 

Para finalizar, eu pergunto: quem poderá se opor em dizer, que a personagem do “Sítio do Picapau Amarelo - Tia Nastácia”, é uma das principais da história? Antagonista que ela não é.  

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¹ “Mammy”, é a mulher negra, boa cozinheira, atenciosa aos cuidados de família, formada por brancos. Além das qualificações, seu tipo físico também é estereotipado: gorda, ela tem seios grandes e usa lenço nos cabelos. A simpática e teimosa “ama de leite”, que cuidava com zelo de “Scarlett O'Hara”, interpretada pela atriz britânica (nascida na Índia) “Vivien Leigh” (5 de novembro de 1913 - 8 de julho de 1967), no filme: “E o vento levou” (1939), deu origem a este tipo de personagem. À atriz “Hattie McDaniel” (10 de junho de 1895 - 26 de outubro de 1952), foi quem interpretou o papel da “ama de leite - Mammy”, tendo sido a primeira negra a ganhar um “Oscar” neste mesmo ano, de atriz coadjuvante.

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